Loved é fruto de um processo de experimentação no qual me
permiti explorar criativamente a minha relação com Eros com muita liberdade
criativa. Um processo artístico e terapêutico ao mesmo tempo. Entrei num
espaço-memória para resgatar os momentos-chave de diferentes relações amorosas
e converti-os em relatos.
Neste processo de destilação criativa recorri a vários
recursos, tais como o trabalho com o Oráculo e com os sonhos, a expressão plástica
e o “journaling”, ou seja, a escrita de reflexão num diário. A leitura de
algumas obras permitiu-me fazer a ponte entre a minha experiência pessoal e
temas como o amor, o desejo, as relações amorosas e o processo de individuação.
A mitologia foi uma ferramenta indispensável para criar sentidos para as relações
mais complexas. E a música proporcionou-me o amparo emocional, tal como uma mãe,
para poder atravessar estas histórias sem me perder.
O processo de criar Loved iniciou-se muito antes de começar
a escrever os relatos. Sem ainda saber o que estava a criar, já me encontrava
no processo e isso faz parte da magia e da imprevisibilidade da criação artística.
Ia trabalhando deixando-me levar pela curiosidade, pelo desejo de explorar e
saber mais sobre as minhas paisagens internas. Seguindo a necessidade de me
expressar criativamente, de explorar a escrita a partir da incansável busca da
voz autêntica.
Não foi fácil lidar com a incerteza, mas foi imprescindível permitir-me este tempo de experimentação e pesquisa. E no momento certo percebi finalmente o que tinha de fazer, e os relatos começaram a surgir. Cada capítulo, inspirado numa relação, foi como uma viagem, para resgatar os tesouros perdidos e libertar-me daquilo que não servia. Os recursos e ferramentas criativas foram fundamentais neste momento, tal como todo o processo de experimentação prévio. Não estava a escrever uma novela, cada relato devia ser completo em si mesmo e único, assim que me permiti escrevê-los desde diferentes lugares. Por isso alguns relatos estão na primeira pessoa e outros na terceira. Alguns estão escritos no presente e outros no imperfeito. Há relatos que são como uma fotografia de uma cena que olho desde fora, outros são uma reflexão. Por vezes o relato dá lugar a um poema, um sonho ou um diálogo. Muitos desenvolvem-se a partir de uma canção. Estão cheios de referências musicais, artísticas, simbólicas, mitológicas e literárias, tal com Perséfone e Barba Azul, porque foram eles – os mitos, os símbolos, a arte – que me ajudaram a destilar criativamente as minhas vivências para transformá-las em histórias.
É como se, no processo de escrever Loved, tivesse habitado
diferentes personagens e lugares internos, movendo-me de acordo com a necessidade
expressiva que cada relato requeria. Buscando sempre uma nova perspetiva desde
a qual abordar a história que estava a escrever. E acho que isso foi
absolutamente necessário, porque era o que a obra, para cumprir o seu propósito,
me pedia.